Nativo da Costa da Lagoa, Seu Ciriaco João Pereira tornou-se morador do Ratones, no outro lado do morro, quando casou-se com a Dona Jordelina, nativa de lá. Nos primeiros anos de casado, pescava com frequência na Barra da Lagoa, para o que tinha que atravessar o morro até a Costa da Lagoa, a pé, e depois cruzar a Lagoa da Conceição até o Canal da Barra, a remo. Atualmente, este caminho de Ratones até a Costa da Lagoa se tornou uma das famosas trilhas dentro da Unidade de Conservação Refúgio da Vida Silvestre Municipal Meiembipe.
Por outro período, trabalhou na pesca industrial no Rio Grande (RS), repetindo a experiência de inúmeros pescadores ilhéus. Mais tarde, em Ratones, há pelo menos cinco décadas, começou a pescar no rio que dá nome ao bairro. O rio Ratones sai do alto do morro e atravessa o bairro em direção noroeste, desembocando na Baía Norte, entre as praias do Sambaqui e da Daniela. Foi esta última que lhe despertou a ideia de fazer uma rede de pesca para uma nova parelha.
Assim fez, com muito sacrifício, em uma época que o acesso a materiais era muito mais dificultoso, a confecção de uma rede que a princípio media 90 braças e, nos finalmentes, 120 braças. Com esta rede e um pequeno grupo de pescadores, começou a pesca de arrasto de praia na Praia da Daniela.
Um destes homens que se uniram ao grupo em seus primeiros anos foi o camarada Orlando, que começou a pescar na parelha do Ciriaco há cerca de 40 anos. “O Ciriaco foi meu mestre, o Ciriaco foi meu professor, tanto de pescar no rio, porque ele é uma pessoa que sempre foi pescador, como no mar”, conta Orlando.
Foi esta parelha de pescadores sob a liderança de Seu Ciriaco que, mais adiante, idealizou a criação de uma associação para dar suporte à pesca artesanal, não predatória, e à defesa dos territórios de pesca. Assim nasceu, em 1991, a Associação dos Pescadores do Rio Ratones, tendo como uma de suas principais pautas a demanda pela revitalização do rio Ratones: “Como a gente já pescava de tarrafa no rio, e o rio começou a ficar danificado pela mudança que fizeram, pela retificação na década de 50. Aí o rio foi piorando, foi perdendo espécie […] Que nós temos nossos comandantes do nosso município, que ainda não visualizou a pesca artesanal como cultura, e como bem estar pro município, pro estado, pro nosso país. Aí criamos a Associação”.
Hoje, Seu Ciriaco tem mais de 90 anos de idade, pelo que, naturalmente, não tem mais condições de pescar. Orlando e mais um parceiro, Adircio, comandam a rede da parelha, e sentem-se muito gratos por serem parte dessa sucessão. Seu Ciriaco é considerado um grande mestre na rede de arrasto, por isso o grupo faz questão de manter o seu nome no título da parelha.
Quando questionado se gosta de comer uma tainha, Seu Ciriaco animadamente confirma e devolve seu sábio entendimento: “A tainha é o primeiro peixe do mar”.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Não tem preferência, de qualquer jeito que fizer eu como.
