O Monumento de Memória à Ilha de Santa Catarina intitulado “Tainhas ao Vento” é constituído por uma estrutura metálica de 10 metros de altura, sustentando cabos de aço ancorados no chão e no topo da estrutura, nos quais 85 tainhas estão suspensas em forma de cardume, balançando e girando de acordo com o vento. As tainhas são feitas de um gradeado de aço inox e revestidas com uma rede de pesca cor azul de malha simulando escamas.
A tainha é um dos ícones mais representativos desta ilha. A escultura representando um cardume de tainhas que se orienta conforme a direção do vento carrega consigo uma série de conceitos plásticos e significados simbólicos. Um cardume tem por intenção alegorizar a concepção de cidade, sendo a cidadania uma prática coletiva que, apesar de todas as diferenças entre os cidadãos, sente a necessidade de unir forças para construir um espaço coletivo de cooperação para o bem comum.
A pesca artesanal da tainha é tão importante para as comunidades tradicionais que se tornou um Patrimônio Cultural do Estado de Santa Catarina. É uma tradição que teve origem com os indígenas e hoje está inserida na identidade catarinense, sendo muito mais do que uma atividade econômica. É, sobretudo, uma manifestação cultural que reúne pessoas, saberes, histórias e cultura repassada de geração em geração. É um evento onde os moradores e visitantes vão à praia ver os pescadores cercar um lanço de tainha, e acabam participando da prática e conhecendo a tradição.
Em uma destas histórias de pescador e pessoas que chegam à Ilha de Santa Catarina, a comunidade do Bairro Campeche, que fica ao lado do aeroporto internacional, guarda na memória a história do primeiro aeródromo instalado no bairro da Compagnie Générale Aéropostale, utilizado como escala na rota Buenos Aires – Rio de Janeiro – Toulouse. Os aviões da Latécoère, em voos noturnos, aterrissavam com a ajuda de lampiões no morro do Lampião. Numa ocasião, encontrava-se o piloto e escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, que logo ficou conhecido como “Zé Perri” pelos locais e conviveu com o universo do ilhéu pescador. Contam os mais antigos que o pescador Rafael Manoel Inácio, “seu Deca”, que na época era um jovem de 20 anos, ensinara o piloto-escritor a pescar, preparar os peixes e saboreá-los com o pirão d’água.
A pesca artesanal da tainha em Santa Catarina põe à prova diferentes habilidades e virtudes coletivas. É a arte da paciência, pois há que esperar o tempo da tainha, o momento em que cardumes deste peixe (espécie Mugil liza) migram para reprodução proveniente de áreas mais ao sul do Brasil (em geral, da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul). Em Santa Catarina, os cardumes são aguardados entre os meses de maio e julho por milhares de pescadores artesanais, organizados coletivamente em ranchos de pesca. A pesca é ainda arte da astúcia, pois há que combinar o conhecimento das artimanhas do mar com o dom de ludibriar as tainhas viajantes, enredando-as. Uma vez capturadas na rede, as tainhas têm sua longa jornada encerrada. A paciência da espera pouco vale se não se enlaça com apurada atenção aos sinais dos elementos e dos seres da natureza: esses são dons necessários ao pescador com função de vigia.
Nas praias da Ilha de Santa Catarina, do alto de uma duna, não obstante frio e vento intensos, o vigia estuda, em longas horas diárias de observação, tudo o que o mar comunica, por seus movimentos, suas cores e seus desenhos deixados na areia da praia; assim, alerta os companheiros pescadores se há presença de tainhas e condições para a pesca. Enquanto o vigia perscruta o mar, outros membros da comunidade pesqueira ficam atentos a sinais emitidos em terra – acredita-se que as aroeiras e os pés de espinheiros, nativos da ilha, pela quantidade de flores ou frutos, indicam a qualidade da safra de tainhas.
Para que a pesca das tainhas aconteça, é preciso mobilizar além do vigia, o patrão, os remeiros, o chumbereiros e os camaradas. O patrão, atento aos alertas do vigia, analisa o mar e decide se a canoa deve ou não enfrentá-lo, e onde e quando a rede deve ser lançada; é ele quem comanda a embarcação e sua tripulação, além de supervisionar todos os equipamentos e apetrechos, enquanto dura a temporada da pesca. Dentro da embarcação, quatro remeiros seguem o patrão na condução da canoa, sendo que o chumbereiro apoia o trabalho dos demais e lança a rede. Na praia ficam os camaradas, que fazem o trabalho em terra − empurram a canoa do rancho para o mar e depois a trazem de volta; cuidam da rede, puxando-a e posteriormente a devolvendo à canoa.
Dentre os camaradas, há o cozinheiro, que mantém alimentada toda a parelha (equipe engajada na pesca), tanto nos tempos de fartura quanto de escassez, tornando o os meses de maio e junho uma grande confraternização. Acorda às cinco da manhã e já vai para o rancho preparar o café para a turma. Depois faz o almoço, o café da tarde e às vezes até o jantar. E quando acontece um lance bom de tainha, toda a comunidade é agraciada com peixe. A tainha pode ser assada, frita em postas, colocada no feijão, e claro, sempre acompanhada de um pirão. Portanto, a pesca da tainha mais do que uma cultura da ilha, contribui de certa maneira para a segurança alimentar.
A obra de arte “Tainhas ao Vento” é uma manifestação artística que celebra a cultura local e as tradições da Ilha de Santa Catarina, promovendo a identidade regional e a conexão entre a comunidade e o aeroporto. Além disso, o movimento das tainhas na escultura também simboliza o dinamismo e a conexão entre diferentes lugares que um aeroporto proporciona. O balanço das tainhas, conforme o vento, cria uma dimensão cinética na escultura, tornando-a dinâmica e envolvente. Isto não apenas enfatiza a ideia de deslocamento e migração, mas também pode evocar a sensação de fluidez e liberdade associada à aviação.
Em resumo, a ideia de criar um roteiro para dar visibilidade a história e ao modo de vida de uma comunidade é uma maneira de celebrar a identidade local, promover o respeito pela cultura e preservar o patrimônio para as futuras gerações. Ela serve como um lembrete de que uma cidade é muito mais do que suas paisagens naturais; é também uma história viva e uma comunidade vibrante.
DESCRIÇÃO TÉCNICA
O Monumento de Memória à Ilha de Santa Catarina intitulado “Tainhas ao Vento” é constituído por uma estrutura metálica de 10 metros de altura, sustentando 41 cabos de aço ancorados no chão e no topo da estrutura, nos quais 85 tainhas estão suspensas em forma de cardume, balançando e girando de acordo com o vento. As tainhas são feitas de um gradeado de aço inox, medindo 1,20 m de comprimento e revestidas com uma rede de pesca cor azul de malha de 1 cm simulando escamas.
A estrutura metálica superior em formato de estrela de oito pontas é feita em viga I de 20 cm em aço A572 galvanizada a fogo com pintura epóxi com tonalidade oxidada. As quatro colunas metálicas tubolares em torno de 20 cm de diâmetro são em aço A36 galvanazidas a fogo com pintura epóxi oxidada. A estrutura está colocada em uma base de concreto armado e está alinhada de maneira que as quatro colunas apontam para os quatro pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), tornando-se um indicador da direção do vento.
Os cabos de aço de 4 mm são de inox, fixados no chão com chumbadores e na parte superior com esticadores. E as tainhas são fixadas no cabo de aço por presilhas. Os assessórios também são de inox.
As tainhas de aço inox medem 1,20 m de comprimento e a distância entre os cabos de aço onde elas estão ancoradas é de 01 (um) metro, porém as tainhas não se encostam, pois estão dispostas intercaladas, ou seja, na altura em que a tainha está fixa em um cabo, a tainha do cabo vizinho estará fixa acima ou abaixo numa distância de 50 cm. Na cauda de cada tainha, está fixada uma placa de polipropileno para criar o efeito aerodinâmico de “cauda de cata-vento”, o que assegura que a tainha gire e sempre fique apontada na direção do vento. No ponto central de equilíbrio de cada tainha de aço inox há um tubo de inox no qual passa o cabo de aço, fazendo com que a peça gire livremente, fixada em sua respectiva altura por braçadeira de aço inox. A altura da primeira tainha em relação ao solo é de 2,20m.
A tainha foi revestida por rede de sacador azul costurada pelo pescador aposentado Seu Miguél Graciano Sodré, pai do nosso artista plástico.
O espaço no solo abaixo das tainhas está preenchido com areia, remetendo ao ambiente praieiro e atendendo a norma de segurança para playground (NBR 16.071). O projeto também contempla bancos para contemplação e paisagismo ao redor da estrutura, incluindo vegetação nativa harmonizando com o projeto paisagístico do aeroporto.