O pescador Victor Sardá de Espíndola relembra o tempo de infância, quando, com poucos anos de idade, acompanhava seu pai no início das noites para verificar se as embarcações e apetrechos de pesca estavam seguros na Praia do Meio. À época, ainda não havia ranchos de pesca e a segurança dos instrumentos de trabalho dependia desta guarda. Assim, de geração em geração, os saberes da pesca artesanal vão sendo passados de pai para filho, constituindo não apenas uma prática, mas um modo de vida. No ano de 1994, aos 53 anos, o pai de Victor faleceu pescando robalo.
As embarcações eram puxadas com guinchos e manivelas. Os ranchos aos poucos foram surgindo, sem acesso a água ou luz elétrica. As tarrafas eram feitas com fio de tucum, até que os fios de nylon começaram a aparecer: “Meu pai falava que o fio de nylon estava acabando com a preservação das espécies”, conta Victor.
As relações entre os pescadores eram colaborativas e de ajudas mútuas, ainda que a disputa de quem pegasse a maior quantidade ou o maior peixe ou camarão, fosse acirrada. “Uma disputa saudável e respeitosa. Onde todos pescavam de acordo com a legislação e defendiam a preservação.” Da pescaria, comercializava-se os camarões e os peixes mais nobres. Os peixes menores, chamados de “cascotes”, não tinham valor comercial, por isso eram distribuídos entre a comunidade no retorno da pescaria.
Em certa pescaria, Manoel Acácio Sardá, avô materno de Victor, “pescou” a porta do avião PP-CCX da companhia Cruzeiro do Sul que caiu na Baía Sul em 1951, não muito longe da Praia do Meio. “Ainda hoje existem destroços deste avião, que ficou como pegador que tranca as redes de pescaria no canal da Baía Sul”.
Manoel também presenciou o naufrágio do navio Unidos, no verão de 1953, que mesmo ancorado no trapiche afundou misteriosamente, a poucos metros da ponte Hercílio Luz. A embarcação estava carregada de latas de banha, farinha e madeira. Até hoje, pescadores são surpreendidos por objetos do navio aparecendo à superfície ou enrolados junto às redes de pesca.
Quiele, Gerson (Conga), Leôncio, Langue, Altino, Silvio, Mané Pão, Corato, Manoel Sardá, Jamil, são alguns nomes dos já falecidos pescadores tradicionais da Praia do Meio, que vivem na memória daqueles que mantêm a vida junto ao mar. Ainda vivos e presentes estão pescadores como Tunico, Beto, Ninica, Pilão, Gainha, Clei (Juruna) e Mico, dos quais alguns acabaram mudando de profissão, outros seguem pescando, nesta ou em outras praias da região.
Antes de chegar a Praia do Meio, para quem atravessa a ponte deixando para trás o centro da cidade, está a Praia da Saudade, uma das praias mais badaladas entre as décadas de 40 até meados da década de 70. Quem vinha de carro, ônibus e mesmo a pé, atravessando a ponte Hercílio Luz, garantia um permanente burburinho na orla, que tinha recortes de uma beleza natural única, que mais tarde ajudaram a transformar o bairro num dos mais elegantes de Florianópolis.
Entretanto, o processo de expansão urbanístico na região, a poluição da baía sul e o melhoramento dos acessos a praias do norte e sul da ilha, ajudaram a espantar os banhistas. Ainda hoje, um pequeno rancho de pesca resiste na Praia da Saudade, onde Maurício Domingues e seus dois filhos, Peterson e Guilherme, mantêm a tradição da pesca artesanal com a pesca em um bote chamado Imperador e uma bateira chamada Pai e Filho. Infelizmente, o rancho da família Domingues também está ameaçado de demolição, para dar lugar a um novo empreendimento imobiliário.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Pirão d’água com tainha assada com escamas.

















