A Ponta do Lessa fica localizada no bairro Agronômica, em frente à residência oficial do Governador de Santa Catarina. É uma área de grande relevância ambiental por ser uma zona de amortecimento do Parque Municipal do Manguezal do Itacorubi, além de guardar importantes registros arqueológicos, como o sambaqui na localidade de Pedra Grande e as ruínas de um pequeno forte, conhecido como Fortim Marechal Lessa ou Entrincheiramento d’Agronômica.
Com 72 anos de idade e pelo menos cinquenta anos de pesca na Ponta do Lessa, Seu Ita é filho de um dos primeiros pescadores a instalar um rancho na localidade, junto a outros camaradas, como o pai do pescador Pimenta e o Sr. Niquinho. Em 2005, Seu Ita tomou a frente para a criação da Associação de Pescadores da Ponta do Lessa (APPL), motivado pela necessidade de organização coletiva e pela busca por mais representatividade e seguridade para a comunidade pesqueira local. Através da Associação, os ranchos, que mudaram de local no passar dos tempos, já passaram por diversas tentativas de legalização mediante os órgãos municipais, mas até hoje ocupam o espaço sem segurança jurídica.
Ali na Ponta do Lessa, os barcos e redes, na sua maioria, têm propriedade individual, uma vez que a pesca nessa região da baía demanda embarcações e grupos menores, diferentemente das de alto mar. É o próprio Seu Ita que cuida do espaço, que frequenta de segunda a sábado, cumprindo responsabilidades como a roçagem e as manutenções gerais. Em meio aos espaços de convivência, construiu um altar para Nossa Senhora Aparecida, com uma lancha desativada, conchas e arranjos de flores. O pescador conta que suas manhãs favoritas são aquelas em que pode parar e ficar contemplando o mar.
Sobrinho de Seu Mario, que também estava entre os primeiros pescadores da Ponta do Lessa, é o pescador André, que carrega muitos causos e lembranças do local onde cresceu. Como tantos manezinhos, guarda histórias das famosas bruxas da ilha, sobre as quais relembra o ensinamento trazido pelo avô em certa noite de lua cheia: “Quando tu vim pelo capim na noite de lua cheia, e o capim sem vento começar a mexer, tu não olha pra trás, pois elas querem brincar contigo e é pra irritar”, narra o pescador, que garante a veracidade da história.
Brincar com pescadores e incomodar cavalos estão entre as peripécias das míticas bruxas, das quais André se considera testemunha viva. Entusiasmado e bem humorado, o pescador conta que se lhe perguntam sobre a presença, antigamente, de jacarés ou capivaras, ele não poderá confirmar. Entretanto, se perguntado sobre as bruxas, apesar da descrença alheia, André atesta que ali sempre estiveram e que é capaz de sentir sua presença. Considera que até os dias de hoje elas seguem por aí, sem fazer mal a ninguém, com gosto de brincar e atazanar em noites de lua cheia.
