A comunidade tradicional de pesca da praia da Armação do Pântano do Sul tem uma histórica relação com a Ilha do Campeche. Desde a época da caça à baleia, a Ilha era utilizada pelos pescadores da comunidade para atividades de subsistência, como a pesca e a plantação de roças. Segundo Seu Aldo, pescador de 84 anos nativo da comunidade tradicional da Armação, a pesca da baleia acontecia no final do inverno. Durante as outras épocas do ano, os pescadores da Armação pescavam na Ilha do Campeche.
A Ilha do Campeche foi tombada, no ano 2000, como Patrimônio Arqueológico e Paisagístico Nacional pelo IPHAN. A partir deste momento, desenvolveu-se um processo de gestão compartilhada entre as associações comunitárias do Campeche e da Armação, em parceria com instituições de pesquisa e órgãos públicos. É nesse contexto que a Associação dos Pescadores Artesanais da Armação do Pântano do Sul – APAAPS, através da qual a comunidade tradicional de pesca da Armação se organiza, passou a realizar a travessia para a Ilha do Campeche, implementando assim uma bem sucedida experiência de Turismo de Base Comunitária.
Desde 2012, em contrapartida ao turismo de massa do verão, a APAAPS também participa do Projeto Escolas da Ilha do Campeche, levando durante o ano inteiro escolas de Florianópolis para passeios de educação patrimonial na Ilha. O projeto é uma ação promovida em parceria com o IPHAN e Instituto Ilha do Campeche.
Aldori Aldo de Souza, filho de Seu Aldo, é um dos pescadores nativos mantendo viva a tradição passada de geração em geração. O pescador conta sobre os casos mágicos que ficam guardados na memória coletiva da comunidade local. Aldori narra a ocasião de certo dia em que o mar estava muito agitado, o que levou os pescadores a ancorarem os barcos na Praia do Matadeiro. Durante a noite, o barco de um dos homens, o Seu Loro, desgarrou-se do ponto onde estava e ficou à deriva. Entretanto, o barco foi “navegando” sozinho até a Ilha do Campeche, parando justamente onde Loro costumava ancorar no local. Outro causo foi a fuga repentina do antigo Seu Quirino da Ilha do Campeche, que por motivo até hoje desconhecido, fugiu aterrorizado em um barco tão pequeno que teria colocado em risco a própria vida. O homem faleceu sem contar o que teria visto na ilha que tanto o aterrorizou. O próprio Aldori, contador destes causos, garante que já viu assombração no Matadeiro, motivo pelo qual não pisa mais na praia vizinha.
Entre os assombros e os encantamentos que animam o imaginário dos nativos na sua relação com o território, a Praia da Armação carrega uma rica história cultural que gira em torno das comunidades tradicionais de pesca artesanal. A estonteante paisagem natural da praia é adornada com os numerosos barcos pesqueiros que ficam atracados no local, um cenário único que atrai numerosos turistas ao longo do ano, especialmente na temporada de verão.
Entre os inúmeros pescadores da praia da Armação, dedicamos uma homenagem “in memoriam” ao Sr. Manoel Graciano Sodré, tio do artista plástico idealizador do Tainhas ao Vento. Tio “dedeca”, como era chamado, era um pescador tradicional da Armação, pescava tainha de rede, tarrafa, estava sempre presente na praia, um grande amigo de todos, que merece esta homenagem póstuma.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Tainha assada recheada com pirão com ova e camarão é o favorito de Natan, da Parelha Geórgia Sul.
