A Ponta do Coral, também chamada de Ponta do Recife, é um pequeno pedaço de terra que se estende para dentro da Baía Norte, na altura do bairro Agronômica, que devido à sua localização foi um referencial geográfico importante para a navegação no local e, mais tarde, motivo de intensas disputas judiciais pela ocupação da área.
Até a década de 70, os ranchos da comunidade de pesca da região ficavam instalados nas imediações do antigo hospital naval, próximo a onde hoje é a Praça do Rotary Club. Com a construção do aterro da Av. Beira Mar Norte, os ranchos foram realocados para a costa oeste da Ponta do Coral.
Nessa época, a Ponta do Coral, então propriedade do Governo do Estado, também era ocupada pelo Abrigo de Menores da FUCABEM – Fundação Catarinense do Bem Estar do Menor, nomeado Educandário 25 de Novembro. Também funcionava no local a lavanderia do abrigo. Em 1980, o edifício da FUCABEM sofreu com um incêndio que destruiu completamente suas estruturas, durante um dia de domingo em que não havia ninguém na unidade. Apesar de ter sido uma marcante tragédia da história de Florianópolis, as causas do incêndio nunca foram descobertas.
O então governador, Jorge Bornhausen, anunciou um leilão da Ponta do Coral, sob a justificativa de financiar a construção de um novo abrigo no município de Palhoça. A área foi então vendida para uma empresa carbonífera de Criciúma (SC), motivo pelo que os ranchos foram novamente realocados, desta vez para a costa leste da Ponta do Coral.
Segundo Rogério Soares de Oliveira, pescador nativo e primeiro presidente e fundador da Associação dos Pescadores da Ponta do Coral, os novos ranchos fornecidos eram em número expressivamente menor, e por isso não comportavam todos os pescadores que atuavam no local. Por conta disso, muitos tomaram a iniciativa de instalar ranchos por conta própria nas imediações.
Foi a partir da venda da área para a iniciativa privada que uma intensa disputa pública se iniciou em torno da ocupação da Ponta do Coral. De um lado, os proprietários do terreno passaram a pautar a construção de um hotel de luxo no local. Do outro, uma expressiva pressão popular formada por movimentos sociais, moradores e acadêmicos respondeu com a reivindicação de uma Ponta do Coral pública e aberta para usufruto da população.
Situados entre as águas da União e uma terra que se tornou particular e motivo de disputas judiciais, os pescadores não saíram ilesos do conflito. Foi nesse contexto que, em 1998, a Associação dos Pescadores da Ponta do Coral foi fundada, com grande adesão entre os pescadores do local. Desde então, a Associação cumpre o papel de organizar e representar os pescadores na defesa de seus direitos diante dos conflitos fundiários.
Hoje, finalmente, os pescadores da Ponta do Coral estão no processo de regularização dos ranchos, com apoio da Secretaria de Pesca da Prefeitura de Florianópolis e Secretaria do Patrimônio da União.
Rogério relata que o grupo é constituído por diversos tipos de pescadores. Alguns pescam à moda antiga, como o Seu Marcelo, que vive unicamente da pesca e utiliza uma tradicional canoa a remo de garapuvu. Outros, têm na pesca um complemento de renda e utilizam embarcações mais modernas. Nas proximidades da Ponta do Coral, pega-se uma grande variedade de peixes: bagre, tainha, linguado, robalo, corvina, burriquete, parati, cocoroca, caranha. “A nossa baía aqui, se vocês não tem conhecimento, ela é muito rica. Eu acho que principalmente por a gente ter o mangue aqui ao nosso lado, isso aqui é um criadouro”, conta Rogério, fazendo referência ao Parque Natural Municipal do Manguezal do Itacorubi, do qual a Ponta do Coral constitui parte da Zona de Amortecimento.
Atualmente, segundo o pescador, o maior problema enfrentado pela Ponta do Coral é o não funcionamento do Sistema de Bombeamento de Esgoto da CASAN há mais de 2 anos. Essa questão tem sido motivo de uma série de ações e reivindicações da Associação junto à Casan e a própria Prefeitura. O esgoto que deveria estar sendo bombeado para a Unidade de Recuperação Ambiental (URA) da Beira Mar Norte tem desembocado no mar em uma saída próxima aos ranchos e também na direção do Direto do Campo. “Vivemos ali atualmente nos dois lados da Ponta do Coral uma situação muito complicada e de grave risco a saúde pública, pois todo o esgoto que deveria estar sendo bombeado para a URA, está indo direto para o mar. A situação ali é de um grave crime ambiental. Estamos em tratativas com a Casan sobre esse grave problema, mas as informações recebidas relatam a dificuldade que a Casan e a Prefeitura estão encontrando para reativar o sistema em função dos custos com o sistema”, relata o fundador da Associação.
Rogério tem 57 anos e tem lembranças de como era a região antes do aterro da Beira-Mar. Quando criança, o pescador estudava no E.E.B. Padre Anchieta e tomava banhos de mar na altura de onde é hoje o Direto do Campo da Agronômica. Lembra também da ocasião do incêndio do Abrigo de Menores.
Entre a vida cotidiana da comunidade de pesca nativa e as grandes reviravoltas da história política de Florianópolis, a Ponta do Coral já foi palco de muitas histórias. Mesmo com a grande pressão da expansão urbana e da especulação imobiliária, a prática da pesca persiste no local, assim como muitos dos aspectos culturais do modo de vida tradicional das comunidades de pesca artesanal.
