Na década de 1890, quando o mar ainda banhava a faixa que hoje conhecemos como Rodovia Governador Gustavo Richard, em frente ao Largo da Alfândega, a Prainha já era assim chamada, e se localizava na encosta do Morro do Mocotó. Após três processos de aterramento da área, a Prainha persiste até hoje, mantendo seu nome e manifestações culturais.
“Eu sou da época que o mar batia lá no grupo Celso Ramos [atual creche NEIM Celso Ramos]. Os ranchos estavam lá, feitos de lata e madeira que sobravam das construções.” Conta Seu Lalau, pescador veterano da localidade. “Saíam os barcos de lá e iam até a Capitania dos Portos, pescavam ao redor dali até lá no Mercado Público, que batia água também”.
Uma região de grande importância e alto fluxo de veículos por dar acesso ao sul da ilha e à Avenida Mauro Ramos, a localidade da Prainha e seu entorno carregam muita história. Localizada a 500m da antiga costa ficava a Ilha do Carvão, à época um ponto de referência da área de pesca, conforme indicado por Lalau: “A pesca ia até a Ilha do Carvão. Usavam vela, motor era ruim de pegar. O aterro cobriu a praia e os ranchos e de lá fizeram onde é atualmente o túnel.”
A Ilha do Carvão era um ponto estratégico de abastecimento dos navios movidos a vapor que usavam o Porto de Florianópolis até meados de 1940. O Porto foi desativado na metade da década de 60. Na década seguinte, a pequena ilha foi então incorporada à Ilha de Santa Catarina pelo extenso aterro realizado no centro da cidade, e sobre ela instalou-se uma das colunas de sustentação da ponte Colombo Salles. Hoje, a Ilha do Carvão existe somente nas fotografias antigas e nas lembranças daqueles que a testemunharam em sua paisagem natural.
A Associação dos Pescadores da Prainha, fundada em 1989, é a maneira como a comunidade se organizou para manter a atividade pesqueira e se mantém ativa até hoje.
Sobre os profundos impactos da urbanização sobre a pesca artesanal e a paisagem, Seu Lalau complementa: “Mudou muito. Hoje pega muito lixo, pneu, plástico… estraga a rede.” E com esperança de dias melhores, sonha: ” O sonho é conseguir limpar o mar através de um mutirão de todas as associações de pescadores artesanais”.
