O bairro de José Mendes fica localizado na região centro-sul de Florianópolis e guarda consigo um território de importância histórica para a cidade. Cortado pela estrada antiga, como chamam os mais velhos, o bairro tem um aglomerado de pequenas praias e uma vista do pôr-do-sol entre as mais privilegiadas da ilha. Local geograficamente estratégico pré e pós o processo de colonização, guarda vestígios históricos da presença indígena através do sambaqui e de uma oficina lítica encontrada na praia de José Mendes.
Conhecida na época por abrigar uma comunidade tradicional de alta relevância — com, por exemplo, o boi-de-mamão entre um dos mais importantes da ilha — e por ser uma localidade tranquila, próxima ao centro e de belas águas calmas, o território atraiu ricos comerciantes que instalaram-se com suas chácaras para lazer. Uma delas era propriedade de Miguel de Souza Lobo, que instalou no local um curtume de couro de bois e cavalos, o qual com o tempo deu nome a uma das praias, chamada até hoje de Praia do Curtume. Ao longo do século 19, José Mendes tornou-se uma opção de moradia para famílias de renda mais baixa, em geral ligadas ao comércio e à pesca, atividade que persiste, de forma artesanal. Hoje, a Praia do Curtume é o ponto de atracagem dos barcos dos pescadores da APAJOM, a Associação de Pescadores e Afins do Bairro José Mendes.
Atual membro da APOJAM, o pescador Pedro Paulo conta que já havia um primeiro rancho instalado na Praia do Curtume quando seu pai, Sr. Cecílio, ali construiu um rancho de pesca para sua família. Na ocasião, Pedro Paulo tinha apenas 12 anos e passou a pescar junto com o pai, assim como seu irmão Francisco, que se tornou patrão da parelha. Eles pescavam para consumo próprio e para complementar a renda através das vendas, uma vez que Sr. Cecílio era militar e tinha uma remuneração considerada baixa. Além disso, gostavam muito de pescar.
Hoje com 68 anos, Pedro Paulo relembra os nomes daqueles com quem a pesca era uma paixão em comum. Além dele próprio e de seu pai Sr. Cecílio, havia o Sr. Donato, Sr. Jé Coió, Sr. Couto, Sr. Atilio, Ar. Paulão, Sr. Leogidio, Sr. Evaldo Luz, Sr Aristides e seu filho Tide. Já na praia ao lado, chamada de praia do Nelinho, pescavam o Sr. Cabira, Sr. Artemenio e Sr. Porfiro. “Na época, se pescávamos de tarrafa e espinhel, matávamos vários peixes, bagre, tainhota, parati, robalo, parú e outros. No dia de maré seca, botávamos a vela na canoa e saíamos para pegar camarão, siri e berbigão. Na pegada, que era no baixio na Costeira e na Base Aérea. Nisso, o bairro foi crescendo, os filhos foram pegando gosto pela pesca, mais tarde foi chegando outras pessoas que fizeram outros ranchos na praia como o Sr. Alcino, que até hoje ainda pesca. Tem também o Dica, Zeca, Braddock, Noi, Jorge Serafim e outras. Mais tarde começou a dar muito camarão de tarrafa no canal, entre a ilha Vinhas e a Ponta do Penhasco e também de Val na praia. Então, com muitos pescadores na praia, fizemos uma reunião para criar a associação de pescadores, com a ajuda do Sr. Tião, também pescador, fundamos a APAJOM”, conta o pescador.
Assim, a comunidade de pesca de José Mendes se fortaleceu. Com uma autorização da Prefeitura e doação de materiais e de mão de obra pelo Badesc, os pescadores conseguiram viabilizar a construção de uma rampa para descida à praia e uma passarela até o rancho. E assim a tradição da pesca segue nesta comunidade, que apesar de tão próxima do centro da cidade, tem conseguido preservar o modo de vida da lida com o mar.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Tainha frita, acompanhada com camarão ou lula.
