Localizada no extremo norte da ilha, a praia da Lagoinha do Norte é marcada pela presença da pesca artesanal. Dois ranchos em pontas opostas da orla e dezoito canoas espalhadas ao longo da faixa da areia se unem à bela paisagem da praia paradisíaca.
Antigamente, os pescadores da praia da Lagoinha do Norte se organizavam em duas sociedades, chamadas “emendas”, que, no mar, se revezavam na posição do cerco. Há cerca de 20 anos as emendas se uniram, formando até hoje uma só sociedade. São 18 canoas, 26 redes, diferentes patrões e um total de 40 camaradas. Toda pescaria realizada é dividida por sistema de quinhão, que distribui entre os pescadores o peixe capturado de acordo com suas funções.
A parelha já foi seis vezes campeã do ranking das praias na pesca da tainha. No ano passado, 2023, foram a praia campeã com mais de 61 mil peixes pescados. Também nesse ano, bateram o recorde de lanço da história da praia, pegando 30 mill tainhas de uma vez só. Nesta ocasião, o cerco começou meia noite e acabou somente no outro dia, por volta das 6 da manhã. Era uma “noite de lua”, como conta o pescador Amilto: “Vou explicar pra vocês. Quando a lua ela sai, o dia tá começando a anoitecer e a lua sai, ela não é muito boa. Quando a lua sai meia noite, uma hora da manhã, ela é boa. Porque o peixe, tá muito escuro, quando sai a claridade da lua ele bate pra andar”.
Um dos patrões da parelha, Amilto começou a pescar com 9 anos e hoje tem 56. Por muitos anos pescou como vigia, ou “olheiro”, como prefere chamar. Conta que aprendeu o que sabe com dois “profissionais da praia”: seu pai, Seu Manoel Raimundo de Souza, e com Seu Chiquinho. “Eles ensinaram nós. Coisas que eu queria ensinar pros meus filhos e eles não querem. Que a mocidade hoje não quer mais isso. Acabou a nossa geração, acabou tudo”.
Amilto conta que sua mãe, Dona Santa, apesar de não ir ao mar, também é para ele uma referência na pesca: “Minha mãe é mulher de pescador que fica em casa só fazendo a comida pro pescador, aí diz que a mulher de pescador não é pescador? É pescador. Desde que ela faz parte da comida nossa. […] Ela governa o peixe, bota comida na mesa”.
Filho, neto e bisneto de pescadores, Amilto e sua história são mais um dos abundantes exemplos de como a pesca artesanal constitui mais que uma atividade profissional, mas parte de uma cultura e modo de vida. Apaixonado pela vida de pescador, garante: “Porque não tem coisa mais amorosa na vida do que uma pesca de tainha. Não existe… Coisa tão boa na vida como a pesca de tainha. Eu quero morrer, quero partir, pescando”.
