Ailton é dono e patrão do Rancho da Coruja, cujo nome provém de um fato curioso sobre sua construção. Quando foi começar a construção do rancho, Ailton logo percebeu que ali ao lado ficava uma toca de corujas, a qual ele manteve preservada. Com o tempo, foi observando-as e tomando cuidados, como ter colocado um cercadinho com sinalização para protegê-las do trânsito de banhistas. Hoje, as corujas seguem por ali, sendo facilmente observadas nas imediações do rancho.
A princípio o rancho era construído provisoriamente todos os anos, até que, mais recentemente, conseguiu-se liberação para um rancho permanente com a prefeitura. “A tradição, ela pra manter você tem que ter seu espaço de trabalho, assim como qualquer um outro”, defende o pescador.
Ailton é nativo de Canasvieiras e descendente de família de pescadores. Hoje com 58 anos, participa das atividades de pesca desde os 7. Seus pais e tios, também nativos de Canasvieiras, praticavam a pesca com rede de arrasto. Nessa época, conta Ailton, ali havia muito peixe e pouco comércio. Por conta disso, o pescado não tinha valor comercial, por vezes sendo enterrado aquilo que era excedente.
O pescador, que além de patrão da parelha, é diretor da Colônia de Pescadores Z-11, relata que ao longo do tempo a quantidade de redes e de pescadores foi diminuindo, assim como o interesse das novas gerações. “Da minha geração aqui de Canasvieiras, só ficou eu. O povo foi tudo empregado.[…] Não tem uma geração nova”.
Ailton acredita que o caminho para reverter esse cenário está no incentivo à pesca artesanal e no reconhecimento do valor cultural trazido por essa tradição. Nesse sentido, o pescador defende a criação de políticas de fomento à pesca artesanal, como, por exemplo, a implementação de escolas de pesca. De maneira que novos pescadores possam vislumbrar um retorno econômico à altura do serviço que prestam à sociedade. “É muito bom ver alguém crescendo e se mantendo na tradição. Aí é legal. Eu não gostaria que um dia isso acabasse”, sonha.
Também desta parelha, o vigia Gilberto igualmente atesta a profunda transformação geográfica e social ocorrida no território de Canasvieiras. Ali, o pescador presenciou um tempo em que a população local vivia da pesca e de roças de mandioca, milho, feijão, entre outros. Um tempo em que vivia-se em comunidade e em comunhão com a natureza.
Gilberto chama atenção para a situação do Rio do Brás, que há décadas tem sofrido com um processo de poluição e negligência estatal. A situação tornou-se tão extrema que o canal que liga o rio ao mar foi fechado pela prefeitura, de maneira a evitar que os poluentes e agentes infecciosos do rio contaminassem as águas da Praia de Canasvieiras. “Me dói até o coração, porque a gente sobrevivia daquele rio ali. Comia muito peixe, tainha, tudo isso aí”, conta o pescador, que é testemunha viva tanto do passado de plena abundância, como do adoecimento e morte do saudoso rio.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Todos, mas mais assada.
