Parelha do Arante

Localização: Sul, Pântano do Sul
Embarcações: Canoa de garapuvu, Canoa de araucária, Canoa de imbuia
Tipo de Pesca: Rede de arrasto

Segundo Seu Arante José Monteiro Filho, conhecido também como Arantinho, a pesca da tainha sempre foi uma pesca de subsistência. Na Ilha, como em todo litoral catarinense, as pessoas trabalhavam mais nas roças e cuidando de seus animais, do que propriamente pescando. Durante o outono e inverno, as pessoas trabalhavam durante a noite nos engenhos de farinha, fazendo a farinhada. Durante o dia, com a fartura dos cardumes de tainhas nas praias, corriam todos para a pescaria e aos lanços nas praias. Poucas eram comercializadas, a maior parte eram salgadas e secadas ao sol para serem comidas durante o ano, inclusive ovas e moelas, pois não havia geladeira. 

No Pântano do Sul não era diferente. Mas, a partir de 1900, um grupo de pescadores veio de Ganchos, hoje Governador Celso Ramos, para pescar cações nesta praia e levar os peixes salgados para o comércio daquela região. Iam e vinham pelo mar, de baleeira a vela e remos. Alguns desses pescadores nunca mais voltaram para lá. Ali casaram e constituíram famílias, tanto na Praia do Pântano do Sul como na vizinha, Armação. Um desses pescadores era José Zeferino Monteiro, que casou com Martinha de Oliveira, de família local. Tiveram cinco filhos, um desses era Arante José Monteiro. 

José Zeferino não pescava só cações. Na época da tainha, era um dos melhores patrões de canoa — aquele que faz o cerco do cardume, que faz o lanço das tainhas. Nunca foi proprietário de nenhuma canoa ou rede, mas era um excelente patrão para essa pesca. Todos o conheciam como Zé Gancheiro, pois era natural de Canto dos Ganchos. Nunca mais voltou para lá, deixando para trás inclusive sua herança familiar naquela região. Pescou todos os tipos de peixes, numa época em que somente se usava as velas e os remos. Não havia ainda o motor. 

O tempo passou e, já no ano de 1980, a geração seguinte da família decidiu comprar duas canoas e rede para trabalhar na pesca da tainha. A primeira canoa foi comprada na praia da Gamboa, de um pescador muito conhecido naquela praia, senhor Juvêncio Lopes, de tradicional família daquela região. A segunda, foi adquirida na praia do Cassino, na cidade de Rio Grande (RS), e pertencia a João Ramos (também conhecido como Seu João do Celso), pescador de origem em Laguna (SC), onde até hoje é muito conhecido e respeitado. Nesta época, era muito comum as chamadas parelhas de pesca irem para o Rio Grande do Sul, pescar tainhas e outros peixes. Esta canoa por muitos anos fora usada na pesca na Praia dos Ingleses, antes de ser levada para o Rio Grande. Por isso, lá a família decidiu comprar esta canoa que havia saído de Florianópolis. 

Para homenagear Seu José Zeferino, os familiares nomearam a primeira canoa como Zé Gancheiro. Esta canoa foi feita, segundo os antigos proprietários da Gamboa, de uma árvore vinda da serra, a araucária, na praia da Guarda do Embaú. A segunda canoa foi batizada com o nome de Osmarina, esposa de Seu Arante e mãe de seus filhos que formavam a parelha. Esta foi feita de garapuvu, árvore nativa de nossa região. 

As duas são consideradas as melhores canoas da Praia do Pântano do Sul e participam de uma sociedade com mais outras quatro canoas, de outros proprietários. Ao todo são 240 camaradas que puxam a rede na temporada da tainha, e todos ganham seus quinhões igualitários. 

PREPARO PREFERIDO DA TAINHA

Tainha frita com pão.

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Compartilhamos aqui, além das localizações, uma compilação de histórias e relatos destes grupos, comunidades, parelhas, cooperativas ou associações de pescadores de Florianópolis.

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