Filho, neto e bisneto de pescadores, Seu Didi é nativo do Pântano do Sul, onde pesca desde os 10 anos de idade. Uma de suas avós era proprietária de uma pequena casa no local onde hoje em dia fica o famoso restaurante Bar do Arante. Quando ficou viúva, com medo de que a maré subisse até a casa, vendeu a pequena propriedade. “Essa praia aqui, antigamente, a maré castigava mais”, conta o pescador.
O Pântano do Sul é uma das maiores colônias de pesca de Florianópolis. As seis parelhas que pescam na praia hoje atuam como uma cooperativa, em que todo peixe pescado é repartido entre todas as parelhas. Esse sistema de cooperação é uma característica passada de geração em geração: “Essa associação deve ter no mínimo mais de 100 anos, a canoa ali ela tem 104 anos no registro de capitania, fora o que já antes não existia. […] Aqui o Pântano do Sul é a única praia da ilha que ainda cultiva a sociedade, ainda mantém a sociedade viva.” conta o pescador.
Foi um pescador de descendência japonesa, vindo do Rio de Janeiro, o responsável por trazer a tecnologia da pesca com rede de cerco para a ilha de Santa Catarina: “O primeiro cerco da ilha foi colocado naquela ponta ali”, apontou Didi. Foi através de um amigo em comum que Seu Didi conheceu o homem. Assim, o ajudou a treinar outros pescadores, participando da difusão dessa técnica pela ilha e também pelas praias do continente.
Pescador de larga experiência, Seu Didi já conheceu toda parte do litoral brasileiro, e até mesmo estrangeiro, através da pesca. Já trabalhou em localidades como Santos, Rio de Janeiro, Itajaí, Rio Grande e Uruguai. Em alguns desses locais, relata, não há mais pescadores: “Se acabou. Se acabou lá no Rio Grande, se acabou em Santos”.
Com a pesca artesanal se extinguindo em muitos locais, Seu Didi compartilha sua visão sobre a continuidade desse saber-fazer que rege o modo de vida manezinho: “Eu vou te falar pra ti ó: pesca da tainha, se você não tiver uma sociedade boa, dos pais passar pra filho, aquele negócio todo, não vai dar certo tá. Tem que ter por exemplo, tem que ter o respeito com as pessoas mais velha, e aqui tem, vocês já viram aí que tem respeito. Então é isso aí que vai garantir a pesca futura, a tradição. Porque assim ó, só a prevenção que leva a colher algum futuro. ́Porque se não tiver prevenção das coisas, não vai ter. E tem a cultura né. Porque a cultura, une. […] Então se nós na ilha não tiver a nossa cultura, quem é que vai vir aqui? Quem é o turista que vem aqui? Não vai vir ninguém. Agora eu acho também que o negócio de hotel, o negócio que vive de turismo, tem que dar valor a isso aqui, não é só dois meses ou três meses da tainha, mas o ano todo”.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Tainha escalada colocada um dia no sol; feijão “basto“, “com muito bago”, com a tainha em posta adicionada ao fim do cozimento. “Muito bago é de rico!”.
