Marcos Zirke, conhecido como Marquinho, é o proprietário da parelha de pesca no pontal da Cachoeira do Bom Jesus, no norte da ilha. Sua história com a pesca começou ainda criança, porém em um período muito difícil de sua vida. Quando tinha somente 11 anos, Marquinho perdeu seu pai. Até então, sua família vivia da roça, o pai trabalhava negociando gado e assim tiravam o sustento para criar a extensa família, formada por dez filhos. Com a morte do pai, a vida de Marquinho foi transformada completamente. Tornou-se responsável por ajudar a mãe no sustento da família, motivo pelo qual começou a participar da pesca de rede de arrasto durante as noites.
Apesar do luto e da grande responsabilidade para uma criança, com o tempo o jovem foi tomando gosto pela pesca e aprendendo sobre a atividade. Com o passar dos anos, manteve-se na pesca e, vinte anos depois, comprou o rancho que viria a abrigar as atividades de sua parelha. Assim, seguiu dedicando sua vida à tradição da pesca de arrasto de tainha, utilizando tradicionais canoas a remo, feitas de um pau só.
O rancho que por anos abrigou a Parelha do Marquinho do Pontal manteve-se de pé por cerca de 120 anos, ao longo dos quais passou por pequenas reformas e abrigou diferentes gerações. Contudo, na quarta-feira de cinzas de 2023, às 23 horas, Marquinho recebeu uma ligação informando que seu rancho havia sido incendiado. Ao chegar no local, atestou que, lamentavelmente, nada poderia ser feito para salvar o que lá estava. Foram queimadas seis centenárias canoas de um pau só, diversas redes e outros apetrechos, além do histórico rancho que saiu totalmente destruído.
Apesar da intensa tristeza diante do ocorrido, a fé no divino e a cumplicidade dos amigos foram os apoios com os quais o pescador conseguiu erguer um novo rancho, onde as atividades de pesca já voltaram a acontecer. O valioso patrimônio histórico que foi incendiado não se pôde recuperar, entretanto, aquilo que é mais fundamental à tradição da pesca artesanal segue vivo na Parelha do Marquinho do Pontal: o saber fazer, que foi passado de geração para geração.