Na Costeira do Ribeirão da Ilha, em meio a uma paisagem já repleta de mata às margens do mar, aqueles que passam com olhos mais atentos têm sua curiosidade despertada pelos bonecos metálicos e coloridos que enfeitam a entrada do ateliê Bonecos de Caldas. Ali, além de um ateliê criativo de confecção de bonecos da cultura popular, fica também a residência de Nei e Adelaide.
Nei nasceu em São José, mas fixou residência ali na Costeira do Ribeirão em 1990. À época, já trabalhava com confecção de peças de boi de mamão e seguiu conciliando seus trabalhos criativos e a pesca. Em 1995, passou a ser parceiro de pesca de André, nativo da Costeira, com quem segue como amigo e cúmplice na lida com o mar até hoje. Juntos, eles têm muitas histórias na pesca, já pegaram peixes em abundância, como badejo branco e burriquete, e já cruzaram com diferentes e inusitados animais marinhos, como uma tartaruga albina, arraias e baleias.
Filho de pescador, Nei aprendeu a pescar com seu pai, que era dono de uma canoa baleeira na praia da Joaquina. Hoje, divide seu tempo entre a pesca e os trabalhos artísticos, nos quais Adelaide é sua colaboradora. Nei é um dos bonequeiros de boi de mamão mais antigos da ilha em atividade. Adelaide, já tinha sua própria trajetória artística antes de conhecê-lo. Juntos, eles construíram e mantêm juntos o ateliê Bonecos de Caldas, que funciona como espaço criativo e loja de artesanatos.
Adelaide, volta e meia, também sai para pescar com Nei, na bateira chamada Caranha. Ela ainda lembra do acelero no coração na primeira vez que foi pescar: “Dava muito medo na hora, eu pensava que não ia conseguir, tinha que ir soltando a rede, o Nei remando, e era muito rápido, mas no final dava a certo, ia soltando o chumbo e as boias, cuidando para não embaraçar”. Conta que já pescou cadeira, balde, sacolinhas, folhas, muitas folhas… Alguns destes materiais retirados do mar acabam sendo utilizados no artesanato, dando novos significados ao que antes estava fadado a ser lixo e poluição.
