“Meu avô era pescadô. Acabo meu avô ficou meu pai. Faleceu meu pai, a pesca ficou com a família. Ficou com meu irmão, do meu irmão passou pra mim. E está aí, na tradição da família.” Ana Maria Gaya, filha de Manoel Luiz Gaya, neta de Luiz Gaya, a terceira geração de pescadores artesanais de Jurerê, não acaba aí.
A parelha tem ponto certo a cinquenta anos na Praia de Jurerê. Ana fala com alegria ao lado do esposo, parceiro de pesca há quarenta anos, que seu filho e sua filha sabem da pesca. Sempre que não estão no serviço estão ali juntos na lida da pesca.
Dona Ana relata que aos sete anos ia para praia de Jurerê com o pai, brincava na areia pela manhã enquanto o pai pescava e a mãe ia pra roça. A tarde tinha escola, nos outros dias, sábado, domingo e feriados também ficava com o pai na praia.
Ela conta: “Eu tenho um carinho tamanho por essa pesca. Eu trabalho, mas pego férias todo ano nessa época pra estar aqui pescando”. E sorridente afirma que toda firma que trabalha até hoje só entra se poder tirar as férias para pesca da tainha.
Lembra de como era a paisagem na praia de Jurerê. Um rio robusto que desembocava no mar, Ana compara a largura com a do rio Itajaí, lembra a fartura e diversidade de espécies que pegavam do rio, camarão, siri, peixes, inclusive tainha. Mas quando o rio estourava para o mar chegavam a ficar uma semana sem acessar a praia de tão forte que eram as pororocas causadas pelo encontro das águas. Lamentando o aterro do rio, acredita que nos dias de hoje, durante uma democracia, talvez não fariam isso. As obras não pararam por aí, e o progresso trouxe trabalho, oportunidades e turistas. Acontecimentos que geram divergências entre a comunidade, onde os impactos dessa ocupação do território geram questionamentos até hoje.
Dona Ana relata que a base das renda dos mais antigos vem no verão do turismo e no inverno da pesca da tainha, que é uma cultura da ilha toda. “Todos estão aguardando a pesca da tainha o ano inteiro.” A pescadora reafirma a importância do manezinho na pesca na ilha, afirma que quem faz a frente da pesca são os nativos. Os que chegam de fora e se aproximam da pesca são bem-vindos, pois sempre precisa de mais braços para puxar a rede. Lembra que não é a única mulher pescadora da ilha, que tem muita mulher na lida e que tem muito orgulho de carregar o ofício. Com tudo, reforça a importância de não deixar a tradição acabar pois é a alegria do pescador.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Todos os tipos.
