A praia do Santinho, localizada no extremo leste de Florianópolis, era conhecida pelos antigos como Praia das Aranhas devido a diversidade de aracnídeos encontrados em um pequeno arquipélago próximo a praia. Mas a partir de 1970, começa a aparecer nos mapas com o nome Praia do Santinho, por causa de uma das inscrições rupestres que compõem o sítio arqueológico datado de até cinco mil anos atrás que se encontra na região.
“Eu comecei a anda na pesca da tainha com idade de sete anos com meu pai, nóis saia da descida do morro dos ingleses e ia até na praia do moçambique, cortava todas as dunas, ia com um facho de bambu com uma lamparina amarrada no alto iluminando o caminho…aí comecei nessa coisa da pesca.” Conta Seu Domingos.
Pescador nativo da ilha, aos dezenove anos em 1969, saiu de casa para trabalhar na pesca industrial no Rio Grande do Sul, o que o fez viver, assim como diversos homens da região, nessa rota sul (SC/RS) da pesca durante muito tempo.
Em uma época em que a pescaria não passava por bons momentos, o avô que era construtor de engenho, foi inspiração para Domingos, que incorporou o ofício herdado da família e seguiu na construção civil por um bom tempo.
Com o passar dos anos, sempre acompanhando o pai na pescaria, presenciou um fato que mudo um pouco o rumo das coisas.
Um dia, no velho rancho de pesca do pai na Praia Grande, ouviu uns camaradas em uma conversa atrás do rancho com um tom que o desagradou e trouxe preocupação ao mesmo tempo. Ai que falou: “Pai, vou montar uma parelha pra gente pesca na praia de Moçambique”. Mesmo sabendo que a pesca não traria segurança, achou o melhor a ser feito para o pai e para a tradição da pesca na família.
Logo comprou a canoa Maria Aparecida, feita de timbuva lá do Paraná. Conversou com primo João Passa, que na época, ano de 2004, tinha recém passado pelo incêndio do rancho que tinha herdado do pai na Praia de Moçambique, e cada um com uma canoa registraram o lanço que havia ficado devoluto com a queima da canoa Liamar.
Lá pescou junto com o pai até o ano de 2011, quando surgiu a oportunidade de passar a pescar no canto norte da Praia do Santinho, onde havia outro lanço devoluto, que após diversas ações de terceiros e poder público com o intuito de impedir que Seu Domingos estabelecesse a área de pesca, o pescador ganhou na justiça o direito de pesca do canto norte da praia até 500 m em direção ao sul.
Hoje o pescador não tem mais a companhia do pai que faleceu aos 97 anos e pescou até os 95, mas continua a tradição da família. São duas canoas, a Maria Aparecida que já tem 65 anos e a Estrela, uma canoa feita de madeira de figueira, muito conhecida em toda ilha e cotada como uma das mais antigas na ativa passando dos seus 200 anos de mar. O maior lanço da parelha foi de 5.000 tainhas. Em 2023 ficaram em segundo lugar no ranking de maior quantidade de tainha pescada no ano.
Seu Domingos que tem que articular e investir todos os anos a montagem e desmontagem do rancho na Praia do Santinho, finaliza sinalizando que a pesca artesanal deve ser mais valorizada pelo poder público, que a fiscalização dos limites e regras de pesca devem ser prioridade e que os pescadores que tem sua história reconhecida na pesca merecem ter os mesmos direitos.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Todos os modos de preparo da tainha (exceto ensopada).
