No bairro de Coqueiros, na parte continental de Florianópolis, fica a Praia do Riso, ou “Rizzo”, em sua grafia original, que fazia referência a um antigo morador e engenheiro de origem italiana, conhecido como Doutor Rizzo. Como os demais locais da região, o tempo transformou a Praia do Riso, de uma remota vila de pescadores, em um badalado balneário e, enfim, em uma área de intensa urbanização.
Na beira da praia, entretanto, o lindo cenário da baía segue adornado pela presença de pescadores e suas pequenas embarcações. É o caso de Seu Pilão e sua esposa, Dona Madelon, pescadores artesanais da Praia do Riso.
Pilão é nativo de Coqueiros e é testemunha dos tempos em que cada aspecto da pesca dependia do trabalho manual. As canoas eram “de um pau só”, como a famosa canoa de garapuvu, entalhada a partir de um tronco de uma só árvore. As tarrafas eram feitas de fibra de tucum, planta nativa da Mata Atlântica. O espinhel também era feito artesanalmente, com os anzóis sendo manufaturados um a um a partir de arames.
O pescador relembra o procedimento nas frequentes saídas para pescar no Ratones, bairro da região norte da ilha: “Saía na vela e no remo, ia e voltava, mas sempre usava, o que, a maré e o vento a favor. Nós já sabia que fazia o vento terral com a maré de vazante, viajava o norte. Não tem? À tarde, virava o vento nordeste, viajava o sul com a mesma maré. Então nós usava a correnteza e o vento dos dois lados, tanto pra ir quanto pra voltar”.
E assim demonstra a complexidade de saberes envolvidos na pesca artesanal: “Nós conhecemos a correnteza, a profundidade, a divisa de água, a gente sabe o que é o baixo e o fundo, a gente já sabe pela coloração da água e pela vibração da correnteza, então a gente já tem essa manha, não tem? Então nós se criemos assim”.
Pilão tem 59 anos e conta que, com 7 anos de idade, já participava da pesca, comandando a tarefa de preparar centenas de caramujos, um a um, como iscas nos anzóis do espinhel.
Os quatro filhos dele e de Sua Madelon, por sua vez, também foram criados na pesca. E assim, mesmo diante dos desafios trazidos pela transformação urbana, a tradição da pesca artesanal segue sendo passada adiante, de geração para geração.
No local, existe a Associação de Pescadores da Praia do Riso (APEPRI), que entre sua missão e objetivos está promover e contribuir para o bem estar social e para a formação, desenvolvimento e aperfeiçoamento da vida comunitária e do espírito de solidariedade entre pescadores da praia do Riso e, indiretamente, das comunidades vizinhas e o bairro de Coqueiros.