A Praia do Santinho, localizada no extremo leste da região norte de Florianópolis, fica na região conhecida pelos antigos, como Aranhas, devido aos numerosos aracnídeos encontrados em um pequeno arquipélago próximo à praia, as chamadas Ilhas das Aranhas. O nome, Praia do Santinho, faz referência a uma das inscrições rupestres que compõem o sítio arqueológico do local, a qual tem uma imagem que se assemelha a um santo.
Com cinquenta anos como pescador na Praia do Santinho, Adercio conta que começou a atuar como remeiro, seguindo a tradição da família que veio através de seu pai, seu avô e de outros membros da família que cultivam o modo de vida da pesca artesanal há cerca de duzentos anos. Adercio, que hoje é vigia da pesca no canto sul do Santinho, proprietário de canoa e de rede, conta que no início do ofício como remeiro não tinha equipamentos próprios, mas com o passar dos anos adquiriu, e assim foi se desenvolvendo na tradição da pesca.
Hoje, o Rancho do Braceli é formado por uma sociedade que opera sete canoas: Paula, Daniela, Maria Ladiolina, Rosa Maria, São Pedro, Gargalhada e Araraquara. Todos os anos, durante os três meses de temporada, cerca de cinquenta pescadores se reúnem diariamente, a partir das cinco horas da manhã, com alegria, para viver a tão esperada safra da tainha. São pescadores de diversas idades — na faixa dos trinta, quarenta, cinquenta anos em diante. O mais velho do grupo, conhecido como Seu Nito, já completou 78 anos e continua ativo, atuando como chumbereiro, que, de dentro do barco, ajuda a soltar a rede e fazer o cerco.
Adercio relata que a pesca modernizou muito, o que diminuiu consideravelmente a carga de trabalho envolvida na atividade. As redes, por exemplo, eram feitas artesanalmente com materiais naturais, o que exigia muita técnica e trabalho braçal na confecção e no manuseio. Outro relato é sobre a dificuldade de toda temporada levar as canoas da casa do pescador até os ranchos, antigamente o transporte era feito por caminhões e outros modos, cada um dava seu jeito. Aí um exemplo onde o próprio pescador Adercio modernizou o sistema, projetou um reboque específico para as canoas, grande, feito de madeira com quatro rodas, equipamento que foi novidade na praia do Santinho e teve adesão por outros grupos de pescadores.
O pescador conta que a história da pesca no Santinho guarda o feito de grandes lanços. O maior lanço em que Adercio participou alcançou o número de 45 mil tainhas, em torno de oitenta toneladas. Outro grande feito foi o inédito cerco de 8 mil anchovas, há cerca de três anos atrás, de um cardume que foi identificado por ele próprio, como vigia da parelha. Em 2023, a parelha teve outro feito inédito, capturou cinco toneladas de olhetão.
A pesca no Santinho vem de uma formação familiar de nativos açorianos, que levam adiante uma tradição de mais de dois séculos. Com suas tradicionais canoas centenárias de um só tronco, os pescadores do Santinho consideram este um ótimo lugar para pescar. Todos que pescam juntos repartem os peixes entre si, e o clima é de união e confraternização. Adercio relata que a safra da tainha é um período de grande alegria para toda a comunidade, que festeja e celebra a fartura vinda do mar. Como tudo tem seu fim, a safra também acaba e fica o saudosismo de mais uma temporada que passa, mais um ano de pesca da tainha, lançando as expectativas pro ano seguinte, na certeza que os cardumes virão e a família seguirá a tradição.
PREPARO PREFERIDO DA TAINHA
Tainha assada, na brasa, frita, caldo, feijão com temperos, salsinha, cebolinha e alfavaca.
