Já era temporada de tainha, mas os pescadores do Rancho do Íris andavam desanimados com a falta de peixes na Praia da Caiacanga. Vem dia, passa dia, nada de tainha, e os camaradas resolveram dar um tempo da beira do mar. Somente Seu Iris seguia ali pela orla, pois seu outro trabalho é com a maricultura. Certo dia, mais um com a praia vazia, sem sinal de seus comparsas, Seu Iris olhou para a baía e avistou um belo cardume de tainha dando as caras.
Não podendo deixar passar a oportunidade, o homem correu para dentro de casa e surpreendeu sua esposa, Dona Letinha, que ainda vestia pijamas. Não quis saber de esperar e já foi logo tirando a mulher de dentro de casa. Juntos, subiram no barco e cercaram os peixes, conseguindo capturar cerca de 300 tainhas — um número muito significativo, tratando-se das águas de dentro da baía. A história rendeu boas risadas e virou motivo de contínua provocação entre os camaradas: “A Letinha de pijamas pesca mais do que vocês!”.
Seu Iris é nativo de comunidade de pesca, e o faz desde criança. Por ter se criado nos tempos antigos em que as redes eram feitas à mão, o pescador domina algumas destas técnicas até hoje. Conta que se tecia cordão fino de algodão para confeccionar o espinhel. O cordão era fervido junto com casca de aroeira, que tratava de fortalecer as fibras naturais, para então ser tecido. Confeccionava-se também esteiras de talos de bananeira, que eram utilizadas como colchões.
Lembra-se que as crianças brincavam de fazer “tarrafinhas” com cordas navais de nylon que encontravam pela praia. Nas pequenas redes, penduravam caramujos da praia, furando um por um. Em uma dessas brincadeiras, Seu Iris, então apenas um menino, avistou um cardume na água e resolveu botar sua tarrafinha para teste. Pegou dois peixes — os primeiros do que viria a ser uma longa jornada como pescador. Orgulhoso, correu para contar a seu pai, que também se adiantou a tentar capturar mais peixes do cardume.