Por Marcinho Sodré
Para falar da cultura da pesca da região da lagoa da Conceição, podemos usar o exemplo de meu pai, Miguel Graciano Sodré, filho de Graciano Manoel Sodré e Júlia Maria Sodré.
Até os 25 anos de idade, Miguel vivia em um sistema de subsistência praticamente independente, obtendo seu sustento da roça, pecuária e pesca. Plantava junto com seu pai, mãe e seus 8 irmãos, mandioca, milho, feijão, café, batata-doce, amendoim, melancia, tinham um extenso pomar de laranja, bergamota, café. Além da roça, criavam gado que era usado como moeda de troca nos negócios, alimento e tração (carros de boi, usado para transporte e força animal para o engenho de farinha). O excedente da produção, vendiam no mercado público. A farinha de mandioca era a poupança da família, o resultado da produção era armazenado em um paiol, que ao longo do ano iam vendendo o excedente para comprar tecidos para fazerem roupas, e usado em outras despesas que exigiam dinheiro.
Quanto à pesca, era maior fonte de proteína da família, pescavam na praia da Joaquina de pandorga, espinhel, rede e tarrafa e na Lagoa da Conceição de linha, tarrafa e captura de siri e camarão de “fachos de bambu” para iluminação. Participavam também da tão esperada safra da tainha, cujo excedente era “escalado” (seco ao sol com sal), e armazenado para consumo durante o resto do ano.
O mar sempre foi a “geladeira” do manezinho. Quando anoitecia, meu avô Graciano saía de casa com 2 tarrafas nas costas, uma para peixes grandes para pescar na Joaquina e outra tarrafa miudeira para pescar camarão, siri e peixes pequenos na Lagoa.
Graciano dizia “Quando o pai não dá, a mãezinha sempre dá…”, ou seja, quando não conseguia nenhum peixe na Joaquina, ia até a Lagoa para pegar camarão, siri, peixes miúdos. Chegava em casa no meio da noite, a família estava esperando com o fogão à lenha aceso com feijão para fazer o pirão e comer com o peixe ou o camarão que ele estava trazendo.
Miguel é uma biblioteca viva, detentor das tecnologias do plantio da mandioca e da roça em geral, construção de engenho, carro de boi, fabricação de redes, tarrafas, espinhés, pandorga, além da cultura oral do canto da ratoeira, terno de reis, folia do divino, entre outros.
Assim como Miguel, inúmeros nativos da região da Lagoa da Conceição e de toda a Ilha de Santa Catarina tem esta origem em comum, hoje em dia a grande maioria tem trabalho de carteira assinada, mas nas horas vagas exercita sua cultura ancestral pescando na lagoa de rede, tarrafa, anzol.
Poucos possuem ainda ranchos de pesca, a grande maioria guarda seus equipamentos em casa. Encontramos ranchos na parte sul da Lagoa, no Canto da Lagoa atrás da creche, perto do Lagoa Iate Clube e próximos à ponte da Lagoa (que estão atualmente desalojados devido às obras da nova ponte)
Dos que conseguimos encontrar, podemos citar:
Ailton Brasiliano (Catito)………..
Eder Cordeiro
Betan
Odair Fabriciano Garcez (in memoriam)
Manoel Graciano Sodré (in memoriam)
Francisco Ramos Sodré
Miguel Graciano Sodré
Márcio Miguel Sodré
Erotides Ema Sodré
Valdir Pereira
Geovane Costa
Fabrício Costa
Adão Manoel da Costa
Téo
Valdir Costa
João Costa
Deca Assunção
Gean Assunção
Silvana Barcelos
Rosilene Barcelos
Debêla
Sérgio Jackes
Osvaldo Costa
Olívio Costa
Márcio
Aldo
Pitoca
Adenir Manoel da Costa
Lucas Sodré Garcez
Arthur Sodré Garcez
Iahn Igel Sodré
Lia Igel Sodré
Gabriela Igel Sodré
Cecília Sodré de Oliveira