A palavra Pirajubaé, de acordo com o cacique da aldeia indígena Guarani Mbya de São Miguel de Biguaçu, Milton Moreira Wherá Mirim, reporta-se à abundância no local de um tipo de peixe amarelo que os antigos carijós conheciam por “Pirá’Jumboaié”. Daí a origem do nome do bairro, localizado na parte centro-oeste da Ilha, sendo o caminho para as praias do sul da ilha e para o Aeroporto Internacional.
A RESEX Pirajubaé foi a primeira reserva extrativista marinha do Brasil, criada pelo Governo Federal em 1992, pelo Decreto nr. 533/02. O responsável pela sua gestão é o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, em conjunto com a população tradicional beneficiária da RESEX, por meio do seu Conselho Deliberativo e outros espaços de participação popular.
O conjunto de ranchos de canoa existentes atualmente na Costeira do Pirajubaé foi entregue aos pescadores em julho de 2002, após o término da obra do aterro da Via Expressa Sul iniciado em 1995. Antes disso, os pescadores tinham seus ranchos ao lado da estrada antiga da Costeira, a Avenida Jorge Lacerda. Para instalar a nova via, foi construído um aterro hidráulico que expandiu a área da planície costeira da enseada do Saco dos Limões e cujos impactos provocaram a redução dos estoques dos recursos pesqueiros dessa RESEX, dentre eles o berbigão. A Via Expressa Sul também deixou de herança para os pescadores problemas de balneabilidade da água. Para escorrer a água no processo do aterro foram criadas galerias (valas), que hoje viraram um esgoto a céu aberto.
Entretanto, os pescadores são resilientes e, mesmo com as mudanças ocorridas, foram se adaptando ao novo modo de viver da pesca. Algumas artes de pesca são únicas na RESEX, e ainda sobrevivem e são praticadas nos ambientes de águas quentes e rasas, conhecidas localmente como baixios. Além disso, o Turismo de Base Comunitária (TBC), praticado pelos próprios pescadores, como uma atividade complementar à pesca, permite ao visitante conhecer e conviver com as belezas de Pirajubaé.
Seu José Carlos Martins, o Zé da Costeira, há 63 anos mora na Costeira do Pirajubaé e é testemunha da época em que o mar ia até a beira da Jorge Lacerda. O pescador relata que, quando a maré enchia muito, os carros ficavam impossibilitados de passar e os pescadores davam conta do transporte local com suas bateiras. Ali ficavam também os ranchos, que foram realocados na ocasião do aterro. “Isso aqui antigamente, onde que é aterrado, era cinquenta, sessenta canoa, só na tarrafa. Tarrafeando no camarão, na pegada”, conta o pescador, fazendo referência à técnica que consiste em pisotear, embaixo d’água, uma área demarcada com estacas de bambu, de maneira a criar pegadas onde os camarões vêm se aninhar, para então serem capturados com as tarrafas. “Tinha vez que nós soltava pra marcar pegada, nós ficava com água aqui pelo pescoço. Só pra ir marcando né. Aí depois ela ia baixando. […] Aqui era muito camarão, aqui. Aqui era onde que dava a criação de camarão, que era um lameirão. Era lama. Isso aqui era tudo lama”, conta.
Apesar dos impactos que o aterro da Via Expressa Sul trouxe à comunidade pesqueira do local, a Reserva Extrativista do Pirajubaé continua sendo uma grande conquista da mobilização dos pescadores, que até hoje cumpre o papel de salvaguardar a continuidade da pesca artesanal e a preservação dos territórios marítimos e costeiros da ilha.
